10 dicas para curtir a Chapada de maneira sustentável
Fonte: própria
Além do turismo ecológico, místico e cultural, Alto Paraíso oferece ao visitante a oportunidade de um turismo interior. O convite ao autoconhecimento aparece em cada esquina da cidade, e, agora, chama para a reflexão sobre o lixo.
Colocar o lixo na rua não o faz desaparecer como mágica só porque não está mais ao alcance dos olhos. É por isso que os criadores da Reciclealto – a única associação de coleta de recicláveis da Chapada dos Veadeiros - dedicam a vida para remover os resíduos do ambiente e manter o Cerrado o mais livre possível da poluição. A Reciclealto separa os materiais recicláveis e os transporta para Brasília, mesmo se tratando de uma atividade muito pouco rentável financeiramente.
Mara Regina Rodrigues Gojvscek, de 49 anos, e Luís Carlos Gojvscek, de 55, já enfrentaram incêndios, roubos, chuva de balas de revolver, mas seguem na luta diária por manter a Reciclealto funcionando. São aproximadamente 12 toneladas mensais de resíduos sólidos, o que contempla apenas 3% de todo material reciclável da Chapada dos Veadeiros, ou seja, 97% do plástico, papel, vidro e alumínio produzidos aqui ainda acabam nos lixões e, eventualmente, no ambiente.
Que não se deve jogar lixo nas ruas, nas rodovias, nas matas, nos rios, nas cachoeiras todo mundo está cansado de saber. Dito isso, existem outras ações não tão obvias, porém preciosas para a preservação da biodiversidade do Cerrado brasileiro, que é a mais rica do mundo, abrigando aproximadamente 12 mil espécies de plantas nativas já catalogadas.
1. Evite o consumo também de materiais recicláveis
Fonte: própria
É sempre importante tomar cuidado para não entrar no modo “tudo bem usar plástico dessa vez, eu mando para reciclagem mesmo”. Ainda assim, a melhor ação de todas é não utilizar! Como explica o gerente operacional da Reciclealto, Luís Carlos Gojvscek, a reciclagem é um grande paliativo para todo o lixo que já foi gerado no planeta, mas ela não é eterna. O plástico é o pior produto de todos, pois se decompõe em micropartículas poluentes e pode ser reciclado em média cinco vezes apenas. Além disso, o próprio processo de reciclagem envolve a adição de mais plástico “novo”, recém produzido.
2. Separe os resíduos recicláveis
Fonte: própria
Alto Paraíso tem atualmente 14 pontos de coleta como esse. Eles estão colocados em lugares de fácil acesso, inclusive para quem chega e sai da cidade. Existe um na rodoviária, um no posto de gasolina, outros nas praças. Ou seja, aqui é um lugar muito favorável para exercitar a conscientização ambiental, aproveite!
É importante lembrar também que papel e papelão engordurados também são recicláveis, eles só não podem estar molhados. Segundo Luís Carlos, esses produtos passam por um processo de lavagem antes de serem modificados. Além do mais, uma tonelada de papelão reciclado economiza 10.000 litros de água, 25 a 60% de energia e poupa de 17 a 20 árvores. Então não esqueça de incluir a caixa de pizza e o papel de pão junto dos resíduos a serem levados aos pontos de coleta.
3. Mantenha os recicláveis secos e limpos antes de depositá-los nos pontos de coleta
Fonte: própria
Daniel Pereira Fonte, de 20 anos, e Petrônio Carvalho dos Santos, de 33, passam oito horas por dia selecionando e separando resíduos. Eles já encontraram papel higiênico, fraudas, absorventes, restos de alimento cheios de larva, animais mortos e até fezes humanas, tudo isso em sacos que deveriam conter somente recicláveis. Sem contar o mais comum: molhos, doces, cotonetes, algodão. Imagina colocar a mão em tudo isso para recolher só o que é reciclável nessa mistura? Bem nojento, não é?! Mesmo assim, eles se sentem gratos por trabalhar pelo meio ambiente. Seria uma ótima ideia promover mais higiene e ajudá-los com a simples ação de não misturar orgânicos com recicláveis e, se necessário, até lavar esses resíduos.
Uma boa dica é juntar esses materiais em dois sacos ao longo da sua viagem, um com os resíduos secos (saquinhos, garrafas PET, papel) e outro com resíduos úmidos (garrafas de vidro, caixa de leite, embalagem de iogurte). Então, no momento de arrumar as malas, lave todos os resíduos úmidos somente com água, pode ser na pia do banheiro mesmo, coloque-os de volta na sacola e deposite tudo junto no ponto de coleta mais próximo. Isso não vai tomar mais que cinco minutos do seu tempo, e torna o trabalho do Daniel e do Petrônio muito mais agradável.
4. Leve seu lixo de volta para sua cidade
A Reciclealto trabalha com parcerias, principalmente em Brasília, para destinar todo o material coletado e separado para uma indústria de reciclagem - o que ainda não existe na Chapada dos Veadeiros. O isopor, por exemplo, é difícil de compactar e muito pouco rentável. Só o valor do frete é o equivalente a própria venda de toneladas do produto. Sendo assim, ele acaba permanecendo armazenado no galpão da associação por talvez anos, até encontrarem alguma empresa disposta a retirá-lo. Considerando essa dificuldade, evite o uso de isopor na Chapada e, se utilizar, leve esse material de volta para sua cidade e busque o destino adequado para ele por lá. O mesmo é válido para pilhas, baterias e objetos quebrados.
5. Recolha o lixo “do outro”
Fonte: própria
Não existe lixo do outro, todos somos responsáveis pelo lixo do planeta. Então, por mais chato que seja, recolha as garrafas, os papeis, papelões e alumínios que encontrar pelo caminho, principalmente se for próximo a alguma reserva natural. Por que não? Tem tanta gente cuidando do nosso lixo, não devemos simplesmente nos isentar de cuidar do lixo “do outro”.
6. Evite carne e aproveite para curtir a rica culinária vegana da cidade
Fonte: @arteparadisecafe
Muitas vezes pensamos que o consumo de carne não tem relação com sustentabilidade e que a maioria dos vegetarianos e veganos o fazem por pura compaixão pelos animais. Esse é com certeza um dos principais motivos. Mas se analisarmos na perspectiva da consciência ambiental, a indústria da carne e laticínios está entre as maiores responsáveis pelos problemas climáticos. Ela emite 14,5% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, de acordo com dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O consumo de água também é gigantesco, 17.000 litros para a produção de um quilo de carne bovina, 3.700 para um quilo de frango e 6.000 litros para um quilo de carne suína, segundo dados do Instituto para a Valorização da Educação e da Pesquisa no estado de São Paulo (IVEPESP).
Ou seja, reduzir o consumo de carne também é uma ação em prol do meio ambiente. Mesmo que você não decida ser vegano ou vegetariano, diminuir a frequência ou a quantidade do consumo já faz um impacto enorme. Imagina se você não comesse carne somente às segundas-feiras pelo resto da sua vida? Quantos quilos de consumo seriam evitados? Quanta água seria poupada?
A culinária de Alto Paraiso é um ótimo começo, a comida vegana é bem tradicional por aqui tanto nos restaurantes, quanto nas feirinhas, então aproveite para se expor a experiências culinárias novas e conscientes.
7. Aplique protetor solar 30 minutos antes de nadar nas cachoeiras
O protetor solar contém diversos componentes químicos poluentes e tóxicos para a pele. Geralmente não consideramos isso antes de nadar no mar, tão gigante. Porém, na Chapada dos Veadeiros existem nascentes formando cachoeiras e poços que recebem uma quantidade enorme de visitantes diariamente. Por isso, nesse caso, os cremes de cabelo e de pele sujam a água.
Ótimas alternativas são: usar camiseta de proteção UVA/UVB. Além de proteger a pele do calor e do frio, ela não polui e ainda é financeiramente mais viável, já que custa o mesmo preço de um frasco de protetor solar e pode ser utilizada por anos. O protetor solar biodegradável também pode ser encontrado facilmente nas lojas e feiras de Alto Paraíso. O óleo de coco também tem elementos que protegem a pele do sol e é 100% natural. E, se quiser usar o protetor convencional para o rosto e ombros (ou em qualquer área mais delicada e constantemente exposta ao sol), é importante consultar nos sites e aplicativos quais produtos são os menos tóxicos e poluentes. Como, por exemplo, o CosDNA (http://www.cosdna.com/eng/) e o app Think Dirty. Quando usar o protetor convencional, não esqueça de aplicá-lo pelo menos 30 minutos antes de entrar na água, o tempo hábil para o produto ser absorvido pela pele.
8. Questione se o seu guia turístico e o local onde está hospedado participam da coleta seletiva
Fonte: própria
O que é pior, o medo de ser chato ou lixo e poluição no Cerrado? Como cidadãos conscientes, todos devemos cobrar os governantes, as grandes e pequenas empresas, os estabelecimentos onde nos hospedamos. Se possível, pergunte se há separação de lixo antes mesmo de fechar sua acomodação na Chapada. Se for um período de alta temporada, com opções já concorridas, é válido informar e alertar o gerente do hotel ou pousada, mostrando todo seu descontentamento com a ausência de separação de resíduos. Afinal, não é preciso muito, basta uma lata de lixo com a placa “recicláveis” ao lado da lata de orgânicos. A Reciclealto já se responsabiliza em passar pelos estabelecimentos associados e fazer a coleta desses materiais, a administração do lugar em questão só precisa entrar em contato. (Instagram: @reciclealto e Facebook: https://www.facebook.com/associacaoreciclealto/)
9. Siga à risca as regras dos ambientes com práticas sustentáveis
Muitos lugares na cidade funcionam de maneira sustentável e têm suas próprias regras de preservação do meio ambiente. Alguns deles fazem a separação e limpeza de resíduos recicláveis antes de mandar para a Reciclealto, contribuindo assim com o trabalho da associação. Dessa forma, é muito importante respeitar avisos como: “somente recicláveis”, “somente orgânicos”, ou “somente papel higiênico” nos lixos do banheiro e dos outros espaços.
10. Faça um esforço constante para se conscientizar assim como todos ao seu redor
Fonte: própria
Ao sair da Chapada, você vai levar embora uma bagagem incrível: memórias de lugares paradisíacos, todo poder de cura do Cerrado, aprendizados preciosos, o contato com pessoas maravilhosas. Leve também os novos hábitos sustentáveis e conte aos outros, poste nas redes sociais, se engaje no movimento de preservação dessa riqueza no coração do Brasil e de todo o planeta Terra.
“Por que nós, seres humanos, temos a mania de pensar que outras pessoas, ou até a própria natureza, devem dar conta de todo resíduo que produzimos? Por que não aprendemos a finalizar nossos ciclos?”, questiona a coordenadora de sustentabilidade, Bianca Marsilio, de 30 anos, moradora da cidade há três. O maior motivo da mudança de São Paulo para a Chapada foi o propósito vital de cuidar da natureza.